sábado, 28 de agosto de 2010

Boudicca e Maeve (Mab) - E a força de uma Rainha

"Boudicca era alta, terrível de olhar e abençoada com uma voz poderosa. Uma cascata de cabelos vermelhos alcançava seus joelhos; usava um colar dourado composto de ornamentos, uma veste multi-colorida e sobre esta um casaco grosso preso por um broche. Carregava uma lança comprida para assustar todos os que deitassem-lhe os olhos."...(Dião Cássio em "História Romana").

Boudicca era a rainha da tribo celta Iceni, que habitava a Grã-Bretanha por ocasião da conquista romana.
Entretanto, Prasutagus, seu marido, é quem conduzia o povo. Ele comprometeu sua posição política, quando realizou inúmeros acordos com os romanos, inclusive entregando parte de seus domínios, com a esperança de proteger seu título e sua família.
Mas, o rei Prasutagus, acabou sendo abatido pelo invasor e a rainha Boudicca, juntamente com suas filhas, foram estupradas e humilhadas pelos romanos. Os legionários saquearam todo o reino e realizaram uma operação de ataque contra a ilha de Mona, hoje conhecida como Anglessey, onde se encontrava um dos mais importantes centros de culto dedicado a Deusa Andraste. Essa iniciativa foi encerrada com a degola de diversos celtas, sendo que, os druidas, cuja a doutrina sempre foi incompreensível para o racionalismo latino, foram os primeiros a morrer, seguindo a escravização dos demais e a aniquilação dos bosques sagrados. Tudo isso, vai além da simples humilhação militar. Para uma cultura que tem a religião em tão alta estima, tais atos são autênticas profanações, um golpe certeiro na coluna vertebral de sua organização social. É possível que os generais romanos não se deram conta do que estava acontecendo, pois para eles, os deuses não passavam de um entretenimento pessoal, quase um luxo reservado aos acomodados patrícios de Roma ou para contentar escravos que não tinham mais consolo.
Com relação aos druidas, consideravam-nos chefes de rebeliões disfarçados de sacerdotes. Acreditavam que, destruindo seu centro de reunião, seria mais fácil pacificar a ilha inteira. Mas os druidas eram os únicos homens preparados para ensinar, perpetuar e aplicar de forma adequada a religião, algo que dava sentido a existência celta. Tentar extirpar o druidismo de sua raiz era condenar todos os celtas a algo pior do que a morte.
A notícia da destruição do centro do culto da Deusa Andraste associado ao ocorrido com a rainha Boudicca e suas filhas, resultou em uma reação bastante selvagem entre os bretões. Uma grande rebelião foi organizada e à frente da mesma foi colocada ao comando da rainha. As mulheres celtas, não eram somente semelhantes aos homens em estatura, mas equivalentes a eles, no que diz respeito à coragem, técnicas de guerra e o desejo de vingança.
Boudicca, então, com um exército de 100.000 homens impôs pesados revezes às legiões romanas. Colchester (Camulodunum), Londres (Londinium) e Verlamium, conheceram os efeitos da reputação guerreira da rainha e o tratamento que ela dava a seus inimigos. Suas ações bélicas foram consideradas como as mais sangrentas realizadas pelos celtas. Várias cidades romanas ficaram arrasadas e centenas de mulheres foram decapitadas em sacrifício à Deusa Andraste, a quem eram dedicadas todas as suas vitórias.
Os bretões devolveram "olho por olho" cada ato de crueldade que sofreram, destruíram todos os fortes romanos que encontravam pela frente e festejavam sobre as suas ruínas.
Contava-se que Boudicca libertava uma lebre como parte de um rito à Andraste, antes de iniciar uma batalha. Se os romanos matassem o animalzinho, despertariam a fúria da Deusa, que lutaria a seu lado, levando-a à derradeira vitória.
Entretanto, em uma última batalha, um exército romano chefiado por Suetônio Paulino, melhor equipado e organizado, acabou derrotando-a. A vitória romana converteu-se em carnificina.
Há informes contraditórios da morte de Boudicca. Há quem diga que ela morreu na batalha, mas muitas outros estudiosos afirmam que ela envenenou-se, evocando, em seu último suspiro, a Deusa Andraste, a "Invencível".
A morte da Rainha Vermelha, entretanto, não pacificou os bretões, só serviu mesmo para estabilizar a situação. Os celtas compreenderam que seria quase impossível expulsar os romanos de seu território, mas esses também entenderam que seria totalmente impossível se impor aos celtas. Isso desembocou em uma frágil paz que nenhum dos dois grupos rompeu antes da coroação de Vespasiano como imperador de Roma.
Há um grande mistério em torno do nome de Boudicca, pois em galês ("budd" em galês), ele significa "A Vitória" e é bem provável que esta rainha ocupou uma posição dupla como líder tribal e como uma Druida. Esse nome, portanto, talvez seja um título religioso e não um nome pessoal, significando o ponto de vista de seus seguidores, que a personalizavam como uma Deusa.
Isso ajudaria explicar o fanatismo de uma variedade de tribos em seguir a liderança de uma mulher na batalha.
Boudicca era uma guerreira enfurecida, sendo descrita como uma mulher alta, de compleição física forte, dotada de uma vasta cabeleira vermelha e capaz de mudar seu rosto com gestos e contorções típicos de qualquer combatente celta. Todos os povos bretões levantaram suas armas para segui-la.
A fama da rainha Boudicca, como de muitas outras mulheres celtas, assumiu a dimensão de mito em toda a Grã-Bretanha. Uma estátua dela, representada segundo a concepção da memória popular, é encontrada em Londres, ao lado do rio Thames, próxima das casas do parlamento.
Segundo uma lenda popular, ela estaria enterrada debaixo de uma das plataformas da estação de Reis Cross. Diversas outras fontes, enumeram as plataformas oito, nove ou dez, como suposto lugar onde a rainha repousa.

Sua história tornou-se ainda mais popular durante o reino de outra rainha inglesa que dirigiu um exército de encontro à invasão estrangeira, rainha Elizabeth I.
Exércitos de Março, em brilhante esplendor
Ao som da chamada de sangue e fogo
Liderados pela defensora da Britannia
Eles levantam contra o Império Romano

Boudicca,Rainha Guerreira da Inglaterra
Como teu noivo eu vou andar contigo

Suas filhas estupradas pelos invasores
Sua família morta ao fio da espada
Pomares contaminados pelos invasores romanos
Agora ela tem sua corte vingativa

Caçador Chifrudo,é o nosso Salvador
A águia romana está voando alto no céu
Caminho orgulhoso em favor de Andraste
Salve nossa terra de ser devorada pelo fogo

Na tres vezes maldita cidade de Londres
A ira druida é desencadeada logo
Incêndios flamejantes mancham o horizonte
A foice da morte colhe o homem

Anda em um carro manchado de sangue
Puxada por dois cavalos enormes
Ela é a filha do Deus Chifrudo
Poria Roma abaixo de seus pés

Como eu, o teu marido vai te honrar
Eu tenho o meu juramento de posse em fogo de Beltane
Para defender a minha terra para os próximos sete anos
Antes de curvar a cabeça para morrer
Todos os invasores serão testemunha agora
Verão como eu vou empunhar a lança do Deus Sol
Ao lado de minha Rainha Guerreira vou correr
As legiões de Roma vão tremer de medo
Testemunhar a glória do triunfo de Boudicca!

Mendes -O triunfo de Boudicca
 
 
Maeve ou Mab/ Medb 

Maeve, "aquela que intoxica", era uma temida rainha na Irlanda. Ela própria disse para um de seus vários maridos que jamais se deitou com um homem sem que outro aguardasse nas sombras.
Com base nas Leis Brehon, conjunto de leis transmitidas oralmente na Irlanda, se uma mulher se sentisse insatisfeita sexualmente no casamento, poderia deixar a relação a qualquer momento.
Costumo dizer que estamos alguns séculos atrasadas pois só recentemente conquistamos essa liberdade e controle sobre nossas vidas conjugais e sexual e mesmo assim com algumas ressalvas. Mas não era somente durante as batalhas ou na cama que as mulheres celtas mostravam seu poder e força. Há vários relatos de autores clássicos sobre as druidas, ou druidesas. Assim como os druidas do sexo masculino, as druidesas exerciam não só a função
de sacerdócio espiritual, como detinham também poderes jurídicos e conhecimentos mágicos de cura. Como bem definiu o autor clássico Pomponiu Mela, os druidas são mestres em muitas artes. O respeito das mulheres celtas foi conquistado até mesmo pelos gregos e romanos que admiravam sua beleza, fertilidade e coragem.

Termino este breve texto dizendo que hoje sinto sutilmente o espírito da mulher celta vibrando entre nós. Tenho que ser firme como uma guerreira no
trabalho, ou então fluente e convincente como uma poetiza numa reunião de negócios. Eficiente e mantenedora no meu lar. Quente e amável com meu marido.
E tudo isso tem que caber dentro de uma só mulher. Na minha opinião o que falta para nós mulheres nos sentirmos de fato uma heroína celta é obter o respeito merecido da sociedade atual.

Kiki Garcia

Kiki Garcia é jornalista e membro do "Caer Piratininga", primeiro Grove (Grupo Druídico) brasileiro afiliado à Druid Network International. Foi uma das mulheres participantes do Círculo 2006 do curso Espiritualidade Feminina (coordenado por Patrícia Fox)

http://www.heramagica.com.br/feminino_celta.htm
http://wwwjaneladaalma.blogspot.com
http://www.rosanevolpatto.trd.br/deusaandraste1.htm

6 comentários:

([säm]) disse...

Engraçado...como apesar de parecer coincidência, estamos todas interligadas em pensamento e intenção.

Esse fim de semana, eu estava mechendo num site que estou montando e estava procurando uma imagem de mulher que expressasse o texto que eu queria postar, uma mulher corajosa que vive sua vida de frente.

Mas, Babi,...eu não posso descrever o que vi na busca de imagens...foi algo tão...sufocantemente brutal e triste que fez meu sangue ferver.
Notícias de nossas irmãs, mulheres no Irã...no Iraque...na África...sob as leis de sharia muçulmanas.

Eu não consigo compreender...o sentido desse mundo islamico. Como as mulheres que são mães, podem permitir que suas filhas, irmãs, amigas, sejam brutalmente assassinadas, mutiladas, ameaçadas, estupradas, espancadas, tolhidas, sem razão, sem justiça, sem voz! Como os homens que vivem nesse pais podem permitir que suas mães, esposas e filhas amadas sejam assassinadas? Não entendo...
Agora elas também não são permitidas de usar sutiã...e se seus seios balançarem enquanto andam, elas são chicoteadas.
Garotas tem suas partes genitais mutiladas para que jamais sintam prazer no ato sexual.
Não são permitidas expressão em nenhuma forma...um marido tem o direito de cortar o nariz e as orelhas de sua esposa se ela o irritar...

Eu rezo para que a deusa Morrigan abra suas asas negras de corvo nos corações de cada mulher naquela terra...para que elas tomem o poder de suas vidas e façam uma revolução...Pois a ira de Morrigan obscureceu meu coração, e eu sei que se tivesse nascido naquele lugar...talvez já tivesse morrido...mas certamente me tornaria assassina.

É irônico não? Apesar de não ser permitido que uma mulher seja uma guerreira (até recentemente, as mulheres conseguiram entrar no exército como soldado) a vida de uma mulher é uma vida de batalha, onde tudo que conquistamos nos custa sangue, suor e lágrimas começando por nossas próprias vidas...e as vidas de nossos filhos...

([säm]) disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
([säm]) disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Empório Bruxaria disse...

Um jeito diferente de movimentar a força e curiosidade dos blogueiros.
Te indiquei no selo de qualidade é só pegar no meu blog e sair espalhando a corrente.
Mas também um jeito das pessoas saberem mais sobre a gente.

http://emporiobruxaria.blogspot.com/2010/08/v-behaviorurldefaultvml-o.html#comments

Priscila Paixão disse...

Um ótimo livro sobre a história de Boudicca é "Os Corvos de Avalon" de Marion Zimmer Bradley, mesma autora de "As Brumas de Avalon".
Onde aliás, Morrigan é a grande protagonista, vale a pena ler.
Abraços a tod@s!

Stella Petra disse...

Foi assim...de repente ...sem pensar...aqui pousei...Muito bom estar aqui...

Acolhedor, reflexivo, infirmativo e amoroso...
Que o Universo te ilumine, proteja sempre...por onde andar...

Obrigada por mais essa oportunidade de conhecimento...

Abraços ;)