sábado, 12 de fevereiro de 2011

Cisne Negro e o mergulho na Sombra

Vou tentar não falar sobre o fim do filme, e nem falar muito das cenas mais chocantes, afinal muita gente ainda não assistiu, então este post é para encorajar quem não viu ainda, VÁ!!!

Apesar de muita gente achar que pode se tratar apenas de um filme sobre as agruras de uma bailarina que quer muito ser a estrela de um espetáculo, este filme é muito mais complexo, e quem estiver aberto para entender sua mensagem conseguirá ver no filme vários arquétipos míticos, como Hades... o sedutor que revela nossa face selvagem, Deméter ... a mãe zeladora e sufocadora muitas vezes, e Core e Persefóne ... as duas faces que todos temos... nosso lado mais ingênuo, puro, inseguro muitas vezes, fragil, a Donzela que todas carregam dentro de si, que espera ser arrebatada por uma grande paixão um dia.
Já Perséfone é tudo o que Core não é... ela sabe quem é... conhece a si mesma... sabe do que é capaz, e se torna assim uma grande Rainha ao lado de Hades.
As pessoas associam a Sombra ao lado Negro... como se todos tivessem um lado bom e um lado mal... não sei se simplificar assim as coisas facilita, pois particularmente não acredito no conceito do Bem e do Mal, eu acredito no equilibrio, e principalmente no que tange ao caráter de cada ser humano, julgar alguém como Bom ou Mal se tornou algo facil, é só olhar para as atitudes e pronto... faça sua aposta!
A Sombra não é o nosso lado Negro, e muito menos nosso lado Mal, eu acredito que a Sombra seja aquilo que muitas vezes tentamos não viver, sufocar, dominar, negar, e principalmente impulsos selvagens, primordiais, como o instinto de sobrevivência e o da seleção natural.
Quando conhecemos nossos impulsos e vivemos nossos instintos de maneira harmoniosa, o trabalho com a Sombra é enriquecedor, Libertador eu diria!!!
A Sombra é o que a sociedade muitas vezes repudia, é o que as religiões ao longo dos milênios julga como pecado, é o que tentamos não enxergar em nós mesmo e vemos com enorme facilidade nos outros.
A negação da Sombra, e o seu repudio pode causar sérios transtornos, posso falar por mim mesma, quando fui atestada como Bipolar estava no começo da minha caminhada na Wicca, e fiz disso um desafio, não aceitei a medicação, cheguei a conclusão que aprender a lidar com isso era o melhor que eu poderia fazer, ao invés de me anestesiar em anti-depressivos.
E caminhar de mãos dadas com a Sombra é um trabalho diário, tem dias que você quer trancar no armário, esquecer no banheiro do Shopping, mas ai você um dia percebe que é a sua Sombra que deu forças para você tomar a decisão mais dificil e de repente a mais acertada da sua vida, como por exemplo, cometer uma rebeldia que trouxe para você o começo de uma guinada, e da tomada ou retomada da sua vida.
A Sombra muitas vezes é a diferença entre ficar passivo e se deixar dominar, e tomar as rédeas de si mesmo e fazer o necessário para ser vencedor, é claro que; lembrem-se do equilibrio... não se vive só na Sombra!
Todo o Herói ou Heroína carrega dentro de sí o seu proprio Vilão, seu antagonista... aquele que também podemos chamar de Desafiador... Ele nos dá o grito para pular fora do barco antes que ele afunde, ele nos mostra onde encontrar forças para suportar a dor da traição, o medo da morte.
O Cisne Negro mostra uma mulher ... uma eterna Core lutando para se transformar em Perséfone, e o resultado é um filme que deixa você arrebatado pela boa musica... (Afinal o espetáculo é lindo para quem gosta de ballet e classicos), e extremamente meditativo a respeito de sua propria Sombra e como você lida com ela.

Bom... eu já tive meus dias de Core, e de Perséfone também... hoje vivo uma transição... já passei dos 30 anos, entrei na idade da Maturidade, constitui familias... civil e mágica, estou aprendendo a ser Hera... Rainha, ser uma Companheira, ser Dona de Mim Mesma, transcender, morrer, passar, os Ritos de Passagem fazem esse papel em nossas vidas.
Espero que minha Hera e minha Perséfone possam caminhar juntas, me dando sabedoria nessa jornada rumo ao Grande Caldeirão da Regeneração.

Para terminar... uma frase que só podia ser do maravilhoso Jung: "Quem olha para fora, sonha. Quem olha para dentro, desperta!" Não perca tanto tempo olhando para os outros, procurando nos outros aquilo que você só pode encontrar ou aperfeiçoar em você mesmo.
Sua Sombra é tão importante quanto sua Luz Própria.
Pense nisso!

Bençãos e luz... e sombra á todos...

Babi Guerreiro 

Hermes resgata Core e devolve(temporariamente) para Deméter.

5 comentários:

Iony disse...

Babi,seu texto veio pra mim como conselho oracular! Caiu como uma luva!Na verdade,um tapa na cara mesmo! Fora o fato de o texto é maravilhoso e esclarecedor por si! Parabens !!Adoro sintonias!

Beijos!

([säm]) disse...

Amei seu texto Babi!! Mór cara que não vinha aqui =O! Ainda não vi o filme...estava na dúvida...Mas agora vou ver com certeza =) Beijos e bençãos para ti =***

Priscila Paixão disse...

Eu adorei esse filme! Como recomendei pra uma amiga, uma loucura osgasmica! haha
Tinha visto varios simbolismos no filme, mas ainda nao tinha olhado pelo angulo de Persefone, muito interessante...
No inicio vi ela como o exemplo de uma mulher Eva sabe, que entrando em contato com sua Lilith. Pra entrar em "sintonia" com esse lado "sombrio" ela mergulha ate mesmo na loucura. Achei o fime muito inspirador, quando saí do cinema nao conseguia parar de pensar num texto, que divido com voces agora, não lembro muito bem de quem é, mas acho que é Rimbaud. Abraços!

"A primeira função do homem poeta é a descoberta do verdadeiro significado do seu eu. O poeta tem de se conhecer a si mesmo, tem de desvendar a sua alma "inteira". Não é do eu individual que se trata, nesta procura trata-se da imensidão da alma, de por a descoberto e percorrer os seus mais longínquos limites, os mais profundos conteúdos, nem que para isso haja que a desregrar, desequilibrar, tornar mesmo monstruosa. Ser "vidente", fazer-se "vidente" de todas as maneiras, para chegar a ser conhecedor de si mesmo, da "alma universal". Na alma reside o mistério. E vale a pena pagar todos os preços, mesmo o da loucura, para se chegar ao "desconhecido", e poder contemplá-lo e exprimi-lo é a suprema realização. O além ("lá-bás") é o verdadeiro domínio do poeta, e a formalização dos conteúdos desse além a sua verdadeira missão."

Green Womyn disse...

Assisti ao filme ontem. É realmente belíssimo (e eu lembrei que dancei O Lago dos Cisnes na escola, quando era pequena hahahahaha)!

([säm]) disse...

Eu tive medo desse filme Babi...as vezes a gente pensa que encontrar O Desafiador será algo que apenas nos "transformará", nos "libertará"...que é qualquer coisa com "coragem". Hoje eu percebi, de leve, e até isso pode ser uma ilusão grosseira, que aquele (ou aquela) que guarda esse limiar, a Sombra de nós mesmas, a Outra, é alguém terrível. Transformação e sofrimento deveriam ser sinônimos.

Pra mim agora são...

Descobri que sou covarde...

Ou talvez, apenas não seja ainda minha vez. Talvez eu só não esteja pronta...tanta coisa eu joguei lá...simplesmente me tornei alguém fracionado....

...desabafando no seu blog...