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quarta-feira, 12 de novembro de 2008

Tabus Menstruais — Superstição ou Sabedoria?

Como outros mitos acerca da Lua, os referentes à menstruação podem conter muitas verdades. Tabus semelhantes são encontrados em áreas muito separadas do globo. As mulheres menstruadas eram isoladas em cabanas especiais, evitavam contato sexual e se lhes proibia cozinhar ou tocar nos alimentos e outras coisas. Seriam tais costumes superstição e preconceito
contra as mulheres, ou será que — como tantas tradições populares — eles contêm uma antiga sabedoria? Ao longo dos séculos, eles poderiam ter sofrido distorções e elaborações. Mesmo assim, no cerne dessas práticas as mulheres podem encontrar conexões com sua natureza lunar. Para descobrir os propósitos dos tabus, analise o círculo do Ascendente Câncer.

O Isolamento das Mulheres Menstruadas: Como a prática de isolar as mulheres menstruadas foi seguida no mundo inteiro, deve ter havido boas razões para tal. O círculo sugere que as mulheres podem necessitar de um certo grau de isolamento todo mês, para entrar em contato com os instintos e as emoções. Câncer necessita de uma concha protetora. Aquário na 8ª, a casa da regeneração, mostra que a separação durante essa fase pode ser curativa. À semelhança do resguardo pós-pano, a cabana da menstruação deu às mulheres o tão necessário sossego. Repouso e privacidade durante o período são importantes para manter o equilíbrio emocional. Incômodos como cólicas e TPM surgem quando os sentimentos reprimidos afetam nossos corpos e nos forçam a prestar atenção.
Os retiros periódicos do mundo são também uma questão da 12ª casa, que aponta para ganhos espirituais. Alguns sensitivos dizem que as mulheres são extremamente mediúnicas durante o pré-menstrual e a menstruação. Como o plexo solar tende a estar plenamente aberto, nós facilmente vemos nosso equilíbrio abalado pela negatividade. Essa vulnerabilidade pode ser uma razão pela qual parecemos teimosas e irracionais durante nossos períodos. Estamos percebendo e reagindo psiquicamente às emoções e motivos inconscientes dos outros. O isolamento pode proteger a mulher intuitiva altamente sensibilizada. Ele também lhe faculta tempo para meditar, vivenciar o hemisfério lunar e voltar com ele ao alinhamento correto.
Isaac Bonewits apresentou uma visão menos positiva dos poderes ocultos das mulheres. Doutor em magia ritual, ele se localiza na linha divisória entre a ciência e o ocultismo. Ele acredita que as mulheres menstruadas emitem energia negativa que interfere no ritual mágico. Embora isso pareça contradizer a visão paranormal das mulheres, talvez nossos poderes devam ser dirigidos para outras tarefas, que não rituais, durante aquela fase. Se não entrarmos em contato com nossos hemisférios lunares e não satisfizermos nossas necessidades especiais, a perturbação resultante pode afetar negativamente as energias mediúnicas. Um retiro pode nos ajudar a
reaprender a utilização dessas energias para aquilo que foram programadas.

Jejum e Tabus Alimentares: Outras práticas comuns, como fazer jejum ou não tocar nos alimentos, podem ter-se devido à higiene precária em circunstâncias primitivas — ou não. O fluxo menstrual é um modo de o corpo descarregar as toxinas, razão pela qual as mulheres são mais saudáveis que os homens e vivem mais tempo. Os bioquímicos descobriram que esse sangue contém proteínas mal metabolizadas, porque nossas funções hepáticas estão comprometidas naquele período. Na pré-menopausa, as mulheres têm muito mais cálculos renais e afecções hepáticas. O dr. Burton Coombs, especialista em problemas hepáticos, associa a suscetibilidade das mulheres a distúrbios do fígado com a presença do estrogênio em nossos
corpos. No círculo do Ascendente Câncer, a ênfase no fígado é mostrada por Sagitário, regido por Câncer na casa da saúde. Júpiter governa o fígado. O estrogênio, principal hormônio feminino, é metabolizado neste órgão. Muitas culturas prescrevem jejuns ou dietas especiais durante o período menstrual, sem dúvida para dar um descanso ao fígado. Qualquer pessoa que tenha uma
história pessoal ou familiar de problemas hepáticos deve experimentá-lo.

Abstinência Sexual: Se o retiro menstrual é válido, outros tabus menstruais universais também podem ser sensatos, como a proibição do sexo. A 8ª casa significa sexualidade e regeneração. O desapegado Aquário está presente no círculo do Ascendente Câncer. Talvez nessa fase do ciclo, o desapego em relação ao sexo promova uma consciência mais elevada, além de regeneração. A abstinência também pode nos proteger de infecções. O vestíbulo uterino fica mais aberto durante esse período do que em qualquer outra época. O sangue pode agir como meio de cultura para bactérias ou doenças sexualmente transmissíveis.
O astrólogo Bob Mulligan, oferece uma justificativa espiritual para a proibição sexual. A exemplo dos seguidores de Alice Bailey, ele afirma que existe uma poderosa divindade feminina conectada com a Lua. O celibato é exigido para invocá-la e para exercícios espirituais destinados à remoção de obstáculos relacionados com a Lua. A abstinência durante a menstruação, quando o plexo solar está aberto, pode na verdade servir para aumentar o poder espiritual. Quer se aceite ou não uma divindade feminina, o celibato intermitente é recomendado em muitas práticas espirituais.
Se os ciclos das mulheres se correlacionavam outrora com as fases da Lua, então a Lua cheia e a Lua nova devem ter sido espiritualmente poderosas. Meditações em grupo e rituais aumentam as energias mediúnicas, logo você pode imaginar o impacto da quantidade de mulheres em celibato, confinadas em cabanas de menstruação e envolvidas em trabalho espiritual. Como nos distanciamos desse poder, ao nos divorciarmos dos ciclos naturais! Ao prestarmos atenção a este ritmo, podemos recuperar parte do poder.

Trecho do livro A Lua na sua vida - O Poder Mágico e As Influências Sobre as Mulheres, de Donna Cunningham.
Um dos melhores livros sobre influências lunares do ponto de vista astrológico com vários dados de pesquisas. Recomendo à todas, é uma excelente leitura!!!

quinta-feira, 30 de outubro de 2008

Absorvente ecológico - Parte 2

Onde encontrar absorventes reutilizáveis no Brasil?
aBiosorventes: bonitinhos e ecologicamente corretos
Bom, sempre dá pra fazer você mesma - ou mandar fazer na costureira ou na casa da avó, que tem máquina de costura. Mas agora já dá para comprar pronto aqui também, o que antes era um privilégio de americanos e europeus. Bonitinhos e ecologicamente corretos, os aBiosorventes são os primeiros absorventes reutilizáveis produzidos em escala comercial no Brasil.
Quem responde pela obra é Diana Hirsch, uma geografa carioca de 26 anos que está se preparando para cursar mestrado em Saneamento Ambiental. Tudo a ver com a função de fabricante e divulgadora de absorventes reutilizáveis: "Meu interesse é juntar a saúde da mulher com a questão dos resíduos sólidos, atrávés do aBiosorvente".
O projeto iniciou depois que Diana assistiu a um vídeo, produzido pelo curso de comunicação da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, chamado Conexão: Dioxina. "Esse vídeo explicava o que era a dioxina, e mostrava que na Alemanha as pessoas tinham a opção de comprar produtos que não fossem branqueados. As meninas da turma pensaram então em fazer um absorvente que não precisasse conter dioxina".
Diana então foi para a Internet, pesquisar. Achou dezenas de opções de absorventes sem dioxina e reutilizáveis - todos caros de importar. Sabendo costurar, ela resolveu então fabricar seus próprios absorventes. "Algumas amigas quiseram, e as amigas das amigas também, e aí pensei que seria uma boa trazer essa discussão para o Brasil".
Os aBiosorventes custam R$ 4,00 - ou 3 unidades por R$ 10,00. Para comprar, visite o site.
Diana contou para Planeta na Web como é conviver intimamente com os aBiosorventes:

Planeta na Web - Como é a aceitação de seu absorvente reutilizável?
Diana Hirsch - Bastante diversificada. Tem pessoas que eu juro que vão entender de cara, e não entendem, e tem outras que eu explico só porque elas perguntam, pois acho que nunca entenderiam, e elas acham a idéia fantástica! Isso vem sendo muito bom para eu parar de julgar as pessoas só pelas aparências... Venho descobrindo que a aceitação dos aBios passa por uma discussão muito maior: desde uma auto-aceitação, não ter nojo de lavar o próprio sangue, até um envolvimento maior com o Planeta, de cada um ser consciente da sua parcela de responsabilidade e de possibilidade. Olhando com um olhar mais macro.

PnW - Como fazer para lavar? Não é anti-higiênico?
Diana - É tão simples como lavar uma calcinha, a única diferença é que você precisará deixar de molho antes. Eu costumo deixar de molho um ou dois dias, e depois coloco na máquina de lavar, mas tem gente que depois do molho lava no banho. Com relação à higiene: um absorvente reutilizável não é mais anti-higiênico do que uma calcinha. Se você se sente segura para usar uma calcinha reutilizável, não tem porque não se sentir segura para usar o absorvente. A única pergunta é: você lava bem a sua calcinha?

PnW - Menstruação ainda é um tabu, e não deveria, já que toda a mulher menstrua. Por que você acha que ainda é considerado impuro ou sujo?
Diana - Acredito que ainda é resquício da sociedade patriarcal que a gente vive. O homem não menstrua, e, em geral, não se sente muito confortável com essa situação. Colocar a menstruação com esse status talvez tenha sido necessário para se estabelecer a sociedade nos moldes como se encontra hoje. Uma mulher que vê a sua menstruação e sua condição feminina como algo de bom, certamente é uma pessoa mais fortalecida e segura da sua condição. Isso dificultaria muito o trabalho dos homens. Deve ter sido necessário esse domínio patriarcal por algum tempo, apesar de que eu não sei porquê. Mas acho que já podemos nos fortalecer novamente. Não para 'lutar' com eles, mas para podermos ser livres.

PnW - Qual o impacto que representa o cultivo de uma relação mais saudável com a nossa própria menstruação?
Diana - A nossa sociedade rejeita a menstruação, mas não foi sempre assim. Durante muito tempo, até a Idade Média, vários rituais de fertilidade em adoração à Deusa eram feitos quando as mulheres da tribo estavam menstruando. Até porque elas menstruavam juntas, o que era muito comum. Aliás, apesar do nosso distanciamento, ainda é possível perceber isso: muitas mulheres, quando moram juntas, ou são muito amigas, com muita afinidade, tendem a menstruar na mesma semana! Isso é muito interessante ser notado: por mais que evoluamos tecnologicamente, e cada vez mais nos afastemos da nossa origem animal, acontece algo dentro de nós, mulheres, todo mês, que tem uma estreita relação com a Lua e com outras mulheres próximas a nós. Isso pode nos trazer de volta a nossa condição humana, enquanto seres que também fazem parte da natureza.
Esse texto é parte integrante do texto Incomodada ficava sua avó de Alessandra Nahra

Para quem quer mais informações e gostaria de comprar ou produzir o seu próprio absorvente ecólogico, no final da página do blog à direita nos links me encontre no Orkut, você encontrará o link para a Comunidade Absorvente Ecológico, da qual faço parte, lá existe uma infinidade de informações sobre esse tema.
O Guerreira Interior apoia e participa do Ativismo Pagão - Por uma atitude consciente pró-terra. Nós somos a voz Dela! -Bárbara Guerreiro

Absorvente ecológico - Parte 1

Incomodada ficava a sua avó
Hoje relegada ao banheiro, a menstruação já ocupou um lugar de destaque na vida das comunidades matriarcais. Agora, as mulheres estão redescobrindo o poder inerente a esse ciclo cósmico-feminino. Adotar absorventes reutilizáveis, em vez dos poluidores descartáveis, é um dos passos nesse processo.

Uma pergunta para as mulheres: como você encara a sua menstruação? Como algo que incomoda, que vem de surpresa e a pega desprevenida, manchando calcinhas e causando cólicas? Como um inconveniente que você, se pudesse, não teria? Ou como apenas mais um dos fatos da vida, sobre os quais não temos nenhuma influência e dos quais queremos nos livrar o mais rápido possível?
Se alguma dessas descrições se encaixa na sua visão sobre a menstruação, você provavelmente prefere tampões e mal olha para baixo quando está trocando o absorvente. Quanto menos você ver, ou tiver que lidar com o seu sangue menstrual, melhor. A idéia de um absorvente reutilizável, que você lava em vez de jogar fora, é totalmente alienígena.
Afinal, "incomodada ficava a sua avó" - como dizia o anúncio. As mulheres modernas têm uma infinidade de opções de absorventes e tampões descartáveis. Você compra, usa e joga fora, e isso certamente é um progresso incrível. Fora que mulheres modernas não têm tempo para lavar absorventes. Para que, depois de conquistado o direito ao absorvente descartável, voltar ao tempo da sua avó, que tinha que lavar as embaraçosas toalhinhas higiênicas feitas de flanela?
O raciocínio acompanha os tempos atuais - nos quais, pela praticidade e economia de tempo, se sacrificam recursos naturais e a real qualidade de vida: levar uma vida consciente, em harmonia com o planeta. Os produtos descartáveis são vistos como um progresso e sinônimo de modernidade, porque evitam que se "gaste" nosso precioso e escasso tempo. Muitas mulheres, no entanto, estão preferindo voltar ao tempo da avó, abandonando o destrutivo progresso moderno por uma vida sustentável. E isso tudo pode começar bem perto de nós, no nosso lugar mais íntimo...

Poluição, recursos naturais e autonomia

Estamos pagando um preço muito alto pela praticidade moderna. A produção de descartáveis abusa de recursos naturais que mais cedo ou mais tarde se esgotarão. Absorventes são feitos de papel - leia-se árvores - ou algodão. As árvores, ou o algodão, passam por inúmeros processos de refinamento e branqueamento e acabam grudado na sua calcinha - de onde vão direto para o lixo. Imagine quantas mulheres em idade fértil vivem no planeta. Agora pense em quantos absorventes cada uma dessas mulheres usará durante sua vida fértil. Segundo Diana Hirsch, fabricante dos absorventes reutilizáveis aBiosorventes, "cada mulher usa em torno de 10 mil absorventes descartáveis durante sua vida fértil". Apenas nos Estados Unidos são jogados fora 12 bilhões de absorventes e 7 bilhões de tampões por ano.
Agora imagine para onde vai esse lixo, que não é biodegradável... Imaginou? Não, não existe um limbo dos absorventes. Eles não se desmaterializam assim que desaparecem da sua frente no lixinho do banheiro... Aliás, eles permanecem entre nós por muito tempo, deixando resíduos difíceis de processar, que aumentarão os lixões e a poluição. Certas partes do nosso "modess", por exemplo, podem levar até 100 anos pra se decompor.
Isso sem falar nos componentes químicos, como os agentes que fazem o papel ficar branquinho, e que acabam escorrendo para a terra e contaminando o solo. Por exemplo, a dioxina: subproduto do processo de alvejamento com cloro, é provavelmente a substância que deveria estar mais longe das delicadas partes baixas femininas - já que foi utilizada, numa concentração mais potente, até na guerra do Vietnam. Era conhecida então pelo nome de Agente Laranja.
Outro bom motivo para adotar os absorventes reutilizáveis é a economia. Reutilizáveis podem durar até oito anos, e isso representa um bocado de reais economizados - dinheiro que iria direto para o lixo na forma de absorventes descartáveis. E então chegamos na questão da autonomia. Todos os meses, as mulheres entregam o controle de um processo poderoso e íntimo nas mãos de corporações que não têm a saúde feminina como um de seus objetivos principais. Hoje em dia, se capitaliza tudo - até a menstruação. A publicidade nos diz que é moderno e prático utilizar absorventes e tampões, e nós acreditamos. Se passamos a controlar, nós mesmas, o que fazemos do nosso ciclo mensal, abre-se uma porta para que ocorra uma mudança profunda na maneira pela qual encaramos a "incomodação".

O resgate do feminino e a conexão com o planeta

Ao invés de incômodo, a menstruação pode significar uma chance de interiorização e cultivo da feminilidade. O sangue menstrual, detestado por inúmeras mulheres e considerado sujo em muitas sociedades, pode passar a ser visto de maneira diferente. E então, talvez a idéia de lavar nossos absorventes e reutilizá-los na próxima lua não parecerá assim tão maluca. Afinal, estamos colaborando para um planeta melhor, ao mesmo tempo em que se resgatamos nosso poder feminino.
O uso de absorventes não descartáveis representa um contato mais íntimo com você mesma. "Ao invés de jogar no lixo um sinal de fertilidade, você passa a se relacionar com este sinal, percebendo que a menstruação pode ser uma coisa positiva. É sinal de que você ovulou, e que não precisa ficar preocupada, se seus hormônios estão ok ou não. É sinal de que você fechou um ciclo, assim como a lua, e que agora irá começar outro. É um sinal de esperança do seu corpo, pois é uma limpeza que ele está fazendo para no mês que vem se preparar novamente para gerar uma nova vida", lembra Diana Hirsch. "O ciclo menstrual é um grande presente em termos de flexibilidade, regeneração e criatividade. É um instrumento poderoso para se viver autenticamente, com responsabilidade e consciência", completa Nadia MacLeod, responsável pelo site australiano Menstruation. "Lavar os absorventes e reciclar o sangue no jardim, me mantendo conectada com a Terra, me ajuda a ter consciência dos ciclos da vida".
É preciso mesmo parar de olhar com repulsa, vergonha e medo para esse ciclo que acontece com todas as mulheres. Esse sentimento de sujeira, na opinião de Diana Hirsch, é resquício da sociedade patriarcal em que vivemos. Mas a humanidade nem sempre viveu no patriarcado. Há muito tempo, existiam sociedades de organização matriarcal, nas quais as mulheres eram respeitadas e veneradas e Deus não era Deus - e sim Deusa. Segundo Nadia MacLeod, na medida em que o patriarcado começou a se expandir, as culturas baseadas no culto à Grande Deusa ou à Mãe-Terra foram dizimadas ou se esconderam. "Com isso, se perdeu a reverência, conhecimento e poder inerentes ao ciclo menstrual. Lara Owen, no livro Seu Sangue é Ouro - resgatando o poder da menstruação, completa: "Nos últimos milhares de anos, todas as principais religiões do mundo tornaram-se patriarcais, e todas elas valorizam o intelecto e o espírito acima do corpo e dos instintos".
As sociedades que cultuavam a Grande Deusa viam a menstruação como um processo mágico, quando a mulher podia se conectar com os ciclos do planeta e da vida. "Durante muito tempo, até a Idade Média, vários rituais de fertilidade em adoração à Deusa eram feitos quando as mulheres da tribo estavam menstruando", diz Diana. "O sangramento periódico das mulheres era um acontecimento cósmico, como os ciclos da lua e a subida e descida das marés", afirma Elinor Gadon no livro The Once and Future Goddess. Nadia MacLeod completa: "A menstruação, que já foi considerada uma ferramenta de alto poder de cura para as mulheres e suas comunidades, agora está confinada ao banheiro".

Texto didático e brilhante de Alessandra Nahra

sábado, 25 de outubro de 2008

Recolhimento Sagrado Feminino


Observando os ciclos de nosso corpo, entramos em sintonia com o corpo maior e organismo vivo e pulsante que é a Mãe Terra. Nós, mulheres, carregamos em nosso corpo todas as Luas, todos os ciclos, o poder do renascimento e da morte. Aprendemos com nossas ancestrais que temos nosso tempo de contemplação interior quando, como a Lua Nova, nos recolhemos em busca de nossos sonhos e sentimentos mais profundos. As emoções, o corpo, a natureza são alterados conforme a Lua. Nas tradições antigas, o Tempo da Lua era o momento em que a mulher não estava apta a conceber, era um período de descanso, onde se recolhiam de seus afazeres cotidianos para poderem se renovar. "É o tempo sagrado da mulher", o período menstrual, conforme nos conta Jamie Sams, "durante o qual ela é honrada como sendo a Mãe da Energia Criativa". O ciclo feminino é como a teia da vida e seu sangue está para seu corpo assim como a água está para a Terra. A mulher, através dos tempos, é o símbolo da abundância, fertilidade e nutrição. Ela é a tecelã, é a sonhadora. Nas tradições nativas norte-americanas há as "Tendas Negras", ou "Tendas da Lua", momento em que as mulheres da tribo recolhem-se em seu período menstrual. É o momento do recolhimento sagrado de contemplação onde honram os dons recebidos, compartem visões, sonhos, sentimentos, conectam-se com suas ancestrais e sábias da tribo. São elas que sonham por toda a tribo, devido ao poder visionário despertado nesse período. O negro é a cor relacionada à mulher na Roda da Cura. Também são recebidas nas tendas as meninas em seu primeiro ciclo menstrual para que conheçam o significado de ser mulher. Esse recolhimento não é observado somente entre as nativas norte-americanas, mas também entre várias outras culturas. Diversos ritos de passagem marcam a vida de meninas nativas no seu primeiro ciclo menstrual. Entre os Juruna, quando a Lua Nova aponta no céu, é momento de as meninas se recolherem para suas casas. As meninas kanamari, do Amazonas, também ficam reclusas enquanto dura seu primeiro sangramento, sendo alimentadas somente pela mãe. Assim ocorrem com as meninas tukúna que nesse período de reclusão aprendem os afazeres e a essência do que é ser uma mulher adulta. Observa-se, em alguns casos, como parte do rito, cortar o cabelo e pintar o corpo de negro. São ritos de honra à mulher, e não o afastamento das mesmas pela impureza, como foi mal-interpretado por muitas outras culturas, principalmente a nossa ocidental extremamente influenciada pelos valores cristãos.Nossos corpos mudam nesse período, fluem nossas emoções e estamos mais abertas a compartilhar com outras mulheres, como uma conexão fraternal. Ao observarmos nossos ciclos em relação à Lua, veremos que a maioria das mulheres que não adotam métodos artificiais de contracepção e que fluem integradas ao ciclo lunar, têm seu Tempo de Lua durante a Lua Nova. É importante observarmos como fluímos com a energia da Lua e seus ciclos, e em que período do ciclo lunar menstruamos. A menstruação é um chamado do nosso corpo ao recolhimento, assim como a Lua Nova é um período de introspecção, propício ao retiro e à reflexão. A Lua Cheia proporciona expansão e, se nossos corpos estão em sintonia com as energias naturais, é o período em que estaremos férteis. Quantas mulheres atualmente deixaram de observar os ciclos do próprio corpo? Quantas deixaram de conectar-se com as forças da natureza, deixaram de lado a riqueza desse período de introspecção, recolhimento e contemplação de si mesmas? No nosso Tempo de Lua sonhamos mais, estamos mais abertas à sabedoria que carregamos de nossas ancestrais. Aproveite esse período para conhecer e explorar seu interior, agradecendo os dons e habilidades que possui. Compartilhe com outras mulheres esses momentos sagrados de respeito e fraternidade. Ouse sonhar e exercer seu lado visionária. Note que ao estar em conexão com todas as mulheres e com a própria Mãe Terra, muitos sintomas tidos como incômodos vão desaparecendo. Muitos destes sintomas são a rejeição desse período. Com a competição resultante dos valores da sociedade moderna, muitas de nós esqueceram de ouvir a si mesmas, de sentir a necessidade de seus próprios corpos e corações.
Para finalizar, segue um trecho sobre a Tenda da Lua, de Jamie Sams, falando-nos sobre a importância desse ciclo de religação com a Terra e a Lua: "O verdadeiro sentido dessa conexão ficou perdido em nosso mundo moderno. Na minha opinião, muitos dos problemas que as mulheres enfrentam, relacionados aos órgãos sexuais, poderiam ser aliviados se elas voltassem a respeitar a necessidade de retiro e de religação com a sua verdadeira Mãe e Avó, que vêm a ser respectivamente a Terra e a Lua. As mulheres honram o seu Caminho Sagrado quando se dão conta do conhecimento intuitivo inerente a sua natureza receptiva. Ao confiar nos ciclos dos seus corpos e permitir que as sensações venham à tona dentro deles, as mulheres vêm sendo videntes e oráculos de suas tribos há séculos. As mulheres precisam aprender a amar, compreender, e, desta forma, curar umas às outras. Cada uma delas pode penetrar no silêncio do próprio coração para que lhe seja revelada a beleza do recolhimento e da receptividade".

Texto de Tatiana Menkaiká - Publicado na Revista Viva Melhor - Xamanismo

quarta-feira, 8 de outubro de 2008

A Carga da Deusa que Sangra


Ouça minhas palavras, tu que buscas compreender os Mistérios que fazem a Mulher: Pelo teu útero compartilho contigo minha essência de Criadora.
Sou feita de carne que verte sangue, sou a almofada Aveludada onde pousa suavemente o ovo do Ser.
Dentro de mim há um Oceano de Sangue por onde navegam todas as mulheres que estão, estiveram, e ainda todas as que, no futuro, estarão no mundo.
Eu sangro nos inúmeros rios, fontes, lagos e mares deste planeta que é azul só na aparência; na essência, é vermelho.
Vermelho, pois a água da Terra é meu sangue, que dôo com amor e respeito a todos.
Quando algum dia te perguntarem quem é a Deusa que veneras, respondas simplesmente;
Ela é água, que é só isso mesmo que sou: simplesmente água, que é Vida.
No meu Oceano de Sangue tudo o que respira foi concebido, e nele se irmanam todas as fêmeas que sangram. É meu seu uivo de dor, cada mancha nas vestes, cada gemido de prazer .
Cada terror da morte na hora do parto é meu, como também é meu o grito de triunfo da Mãe ao parir.
Sou aquela que vive nos teus sonhos de amor, amamento teus filhos e nutro todas as tuas criações, quer sejam crianças, quer sejam poesias, ideais ou sonhos.
Minha é a Teia da Vida, feita de filamentos de sangue entrelaçados qual renda elaborada; trama e urdidura de presente, passado e futuro.
É minha a sabedoria que agora compartilho contigo: é um grande privilégio ser mulher, mas é um privilégio ainda maior saber ser mulher.
E quando te sentires aprisionada por grilhões que não te pertencem, quando estiveres só ou desanimada, quando fores traída, humilhada, abandonada ou quando apenas te esqueceres de quem és, lembra que sempre tens meu enorme poder, a cada fluxo.
Quando tua Lua de Sangue cintila em flores vermelhas, seja na Lua Clara ou Escura, deixes teu sangue correr pela Terra, uma vez mais, como quando a Mulher era sagrada.
E nessa noite mágica, me chames, e dances comigo, me conheças e fales de mim a outras mulheres que, como tu, estiverem prontas para despertar.
No rio de teu sangue sobre a Terra percebas que tu és a Doadora da Vida, a Mulher de hoje, que é a continuidade das ancestrais que sangraram e deram vida , riram e choraram, celebrando comigo a sabedoria dos ciclos.
Sou tua Mãe, tua Avó e todas as que as antecederam, e tenho todos os rostos, poderes e Visões que elas mandam a ti.
Eu, que sou a Senhora da Lua, sangro gotas de luar sobre o mundo, assim como sangro novos universos em cada parto cósmico, explodindo estrelas.
Sejas forte,
Sejas poderosa,
Sejas abençoada pelo poder de teu sangue.
Sintas a vida que pulsa em tuas entranhas, sintas o bater do meu coração em tuas veias.
Sangres comigo, filha, e compartilhes de meu poder que vivifica os tempos.

Texto de Mavesper Ceridwen

terça-feira, 7 de outubro de 2008

Os Mistérios do Sangue


No livro Sacre Pleasure – Sex, Myth and Polítics of the Body (HarperCollins, 1995), Riane Eisler nos relata que os pigmeus Bambuti, da floresta do Congo, referem-se à menstruação como "ser abençoada pela Lua". Não há, naquela cultura, nada de aparentemente negativo associado ao período da menstruação.
O primeiro sangue menstrual é comemorado com uma festa chamada "elima", que envolve toda a aldeia. Após sua primeira menstruação, ser novamente abençoada pela lua no futuro é simplesmente visto como parte natural da vida da mulher, e não há nenhuma celebração posterior associada a isso. Não existem tabus ligados ao período menstrual e isso, talvez, represente bem a antiga mentalidade não-judaico-cristã.
O fluxo de sangue e seu cessar estão ambos intimamente ligados aos Mistérios Femininos. Menstruação, gravidez, parto e menopausa são aspectos do ciclo vital de todas as mulheres. O sangue, ou sua ausência, assinala naturalmente os estágios de transformação de uma mulher, desde a ruptura do hímen ao sangue do parto, ao fim dos sangramentos na menopausa. Em tempos remotos, o modo como uma mulher usava sua guirlanda era um sinal externo de qual estágio de sua vida ela já havia alcançado.
Em Blood Relations – Menstruation and the Origins of Culture, Knight nos conta que os primitivos humanos que habitavam as florestas, dormiam na copa das árvores sob o céu noturno. Os ciclos de luz da lua apropriadamente influenciavam os ciclos menstruais. A pesquisa de Knight indica que, na maioria das mulheres, o ciclo menstrual começa durante a lua nova e ela ovula por volta da lua cheia. Luisa Francia, em seu livro Dragon Time – Magic and Mystery of Menstruation (Ash Tree, 1991), também afirma que as mulheres que vivem e dormem ao ar livre (longe das luzes artificiais) estão sintonizadas a esse ciclo.
Knight apresenta algumas interessantes descobertas da biologia feminina. Um estudo sobre a duração de 270.000 ciclos de mulheres, representando todas as idades da vida reprodutiva, revelou o seguinte: a mais alta porcentagem simples das mulheres do estudo, menstruaram durante a lua nova. A segunda percentagem mais alta, menstruou durante a lua crescente e apenas 11,5% menstruou durante a lua cheia. Essa pesquisa também indica que a maioria das mulheres mostraram um ciclo menstrual de 29,5 dias. Esse ciclo apresentou-se também como o mais fértil. O estudo ainda trouxe à descoberta de que mulheres heterossexuais que praticavam sexo com regularidade semanal, possuíam ciclo mais intimamente ligado ao ciclo da lua do que mulheres cuja vida sexual era de natureza esporádica ou celibatária. O estudo também indicou que os feromônios masculinos podem estar envolvidos no alinhamento do ciclo menstrual ao chamado ciclo "normal" que se inicia com a lua nova.
Nos Mistérios Femininos, vemos que o sangue menstrual era mais do que o indicador do ciclo de fertilidade de uma mulher. A vagina era vista como um portal mágico através do qual a vida surgia de uma misteriosa fonte interna. Na religião matrifocal, era um portal tanto para a regeneração física como para a transformação espiritual. As mulheres estão mais sintonizadas à sua natureza psíquica durante a menstruação. Uma vez que o fluxo de sangue menstrual tende a absorver energia, as mulheres estão mais aptas a curar os outros durante esse período. Assim, mulheres em menstruação podem absorver a energia dos outros e aterrá-la através de seu próprio sangramento físico. Uma vez que o sangue é lançado à terra, a energia é neutralizada e a cura pode ter início na pessoa adoentada.
O sangue menstrual era, também, utilizado para fertilizar as sementes para o plantio, passando a essência da vida a elas. Campos eram, por vezes, borrifados com uma mistura de água e sangue menstrual para estimular o crescimento. As sementes e plantas absorviam um pouco da energia antes que o solo neutralizasse a carga. Xamãs femininos também transferiam cargas mágicas aos campos cultivados através do sangue menstrual, criados para influenciar a mente grupal da comunidade que se alimentaria da colheita. Durante a Idade Média, as bruxas eram constantemente acusadas de enfeitiçar as plantações...
Outra função do sangue menstrual, era a de ungir os mortos. Acreditava-se que isso asseguraria seu renascimento, graças às propriedades vitalizantes do sangue que jorrava do próprio portal da vida. Durante o Neolítico e o início da Idade do Bronze, na Antiga Europa, a região do Egeu testemunhou a criação de tumbas redondas com pequenas aberturas voltadas para o leste, na direção do sol nascente. Essas tumbas representavam o ventre da Deusa, e a abertura era a sua vagina. Vasos sagrados eram utilizados para coletar o sangue menstrual para ungir os mortos. Eram vasos da fertilidade, luz e transformação. Os mortos eram ungidos com sangue menstrual e posicionados no interior das tumbas. A luz do sol nascente simbolizava a renovação e a regeneração, enquanto penetrava na abertura da tumba (o falo solar penetrando a vagina telúrica). Posteriormente, essas tumbas terrenas evoluíram na forma de montes, remanescentes do Culto ao Mortos.
Em Sacred Pleasure, Riane Eisler relata como os ritos e cerimônias funerários pré-históricos incluíam atos sexuais. Tais atos visavam conectar a tumba à energia da procriação. Símbolos espirais eram constantemente gravados em tumbas neolíticas como sinais da regeneração. Também simbolizavam a transformação xamânica da consciência que empregava cogumelos alucinógenos. Os cogumelos têm fama de afrodisíacos e sua semelhança com a genitália masculina ficava certamente evidente aos primitivos europeus. A rapidez com que os cogumelos crescem e desaparecem também contribuiu para sua associação com o falo. Assim, podemos facilmente associar as danças extáticas com os ritos funerários da magia do sangue.
Nos Ensinamentos Misteriosos, a magia do sangue está ligada às fases da lua. A lua cheia inicia a ovulação e simboliza os poderes de transformação da energia lunar (e, por conseqüência, da energia feminina). Por seu aspecto fértil no ciclo de uma mulher, a lua cheia é o período da mãe. Durante essa fase, é melhor formular e visualizar o que quer que seja desejável na vida de um indivíduo. As imagens mágicas lançam raízes durante essa fase, e o sangue é carregado com quaisquer formas de pensamentos que direcionamos a ele. A lua minguante põe em movimento o que foi concebido durante a lua cheia, para que se manifeste. É um período para estabelecer as conexões com o mundo físico, que irão auxiliar o fluxo de energia relacionada rumo aos desejos do indivíduo. A lua nova libera o sangue carregado do caldeirão mágico do ventre. A energia mágica é, então, usada e é tempo para reflexão e introspecção. A lua crescente é um período de potencialização, de leitura e estudos, preparando o solo fértil do ventre para a semente mágica que será plantada na lua cheia.

Por Raven Grimassi

"Quando menstruo, fica instaurado o meu tempo sagrado de mulher!" Sabrina Alves

sábado, 4 de outubro de 2008

Ritos de Passagem


A expressão francesa “Rites de Passage” foi adotada por antropólogos e escritores europeus para definir todos os rituais e cerimônias que propiciam a passagem de uma pessoa para uma nova forma de vida ou um novo status social. Segundo o escritor Arnold van Gennep, os ritos de passagem são cerimônias que existiram e existem em todas as culturas, antigas ou contemporâneas, primitivas ou urbanas, acompanhando cada mudança de idade, de lugar, de estado ou de posição social.
Infelizmente, nas sociedades modernas estas celebrações foram sendo reduzidas - algumas delas mesmo ignoradas - e outras deturpadas. Vivemos nossas vidas, do berço até o túmulo, com apenas algumas poucas cerimônias marcando nossas transições, como batizado, casamento e enterro.
O nascimento de uma criança era considerado antigamente um ato divino, presenciado, assistido e celebrado apenas por mulheres ( parteiras, sacerdotizas, amigas) com cantos, orações e invocações das Deusas “responsáveis” pela gestação e o parto. Por considerarem a Criação um atributo da Mãe Cósmica, os povos antigos honravam as mulheres como detentoras do dom divino da procriação, por isso o ofício sagrado de trazer uma criança ao mundo era uma função natural e exclusiva das mulheres. As habilidades das parteiras eram ensinadas de mãe para filha, e os preparativos para o parto decorriam em uma atmosfera de harmonia e oração, a mãe amparada por ervas, massagens com óleos aromáticos, cânticos e oferendas para as Deusas. O recem-nascido era apresentado às Divindades e abençoado pelas mulheres presentes, invocando atributos e qualidades para a sua vida (foi daí que se originou a lenda das “fadas madrinhas”). O próprio ato de concepção era planejado, preparando os pais para se conectarem com o espírito do seu futuro filho através de rituais, mudanças na alimentação, jejuns, purificações e orações. Acreditava-se que ao se comunicarem com o espírito da criança, antes dela nascer, os pais criavam laços afetivos mais fortes, facilitando o relacionamento e aceitação recíproca. Mesmo hoje os nativos norte-americanos perfazem rituais para chamar e se comunicar com o espírito do futuro filho. A primeira celebração após o nascimento de uma criança era para honrar a mãe (feita pelas mulheres), enquanto os homens festejavam o pai. A cerimônia de “dar um nome” à criança era programada escolhendo os aspectos planetários favoráveis, enterrando o cordão umbelical da criança embaixo de uma árvore frondosa (que então se tornava o guardião e aliado durante os anos de crescimento) e fazendo oferendas às Divindades para abençoar a vida da criança com saúde, segurança, força e abundância.
Os mais importantes ritos de iniciação dos povos antigos eram para celebrar a primeira menstruação das meninas e a entrada dos meninos para o mundo dos homens (marcada pela circuncisão, tatuagens e testes de força e resistência). Por considerarem o sangue menstrual o “sangue da vida” imbuido de “mana” (poder) respeitado e temido pelos homens e oferecido para a Mãe Terra pelas mulheres, procurava-se imitar nos meninos o primeiro sangue das meninas com cortes e flagelações e até mesmo mutilações. Infelizmente, com o advento das sociedades patriarcais a reverência pela sacralidade do sangue menstrual foi sendo substituida por tabus e superstições, segregando e hostilizando as mulheres, que passaram a ser consideradas impuras, indignas e perigosas (por “roubarem” a força dos homens). As celebrações da primeira menstruação foram substituidas por enclausuramento, defloramentos forçados, proibições e restrições, originando posteriormente os conceitos perniciosos e as sensações “vergonhosas” que assombraram as mulheres ao longo dos últimos três mil anos.
Um rito de passagem totalmente relegado ao esquecimento é a celebração da menopausa. Os povos antigos não consideravam que a vida da mulher era definida pela sua capacidade de procriar. Pelo contrário: acreditavam que a partir do momento em que o sangue menstrual não mais era vertido, mas retido no corpo da mulher, aumentava a sua sabedoria e os seus poderes psíquicos e mágicos. Ao passar do estágio de Mãe para a de Anciã (manifestação da própria Deusa, além de Donzela) as mulheres adquiriam um “status” especial, tornando-se conselheiras, curadoras, profetisas e orientadoras espirituais da comunidade. Ritualizando este conhecimento reconhecia-se e se honrava este momento importante de transição na vida da mulher, quando ela podia assumir e desempenhar outros papéis além dos maternos e familiares.
Por que então este acontecimento tão fundamental na vida da mulher passou a ser negligenciado e depois negado pela sociedade, pela história e pela religião contemporânea? Segundo estudiosos e pesquisadores esta negação foi consequência dos conceitos e atitudes patriarcais que valorizavam a mulher apenas por sua capacidade reprodutiva ou os seus encantos sexuais. Crenças como a de que a mulher perdia sua feminilidade após a cessação da menstruação refletiam os medos inconscientes das mulheres alimentados pelas atitudes de indiferença ou desprezo dos homens em relação às mulheres idosas.
Os antigos conceitos espirituais sobre o poder mágico da mulher fértil foram deturpados para as caricaturas medievais das bruxas velhas, com pêlos no rosto e poderes malignos. Das milhões de mulheres torturadas e trucidadas pelos abomináveis tribunais da Inquisição, a maioria era de mulheres velhas, já que “o diabo anda por lugares áridos”.
Hoje em dia a expectativa de vida aumentou e há uma percentagem cada vez maior da população formada por mulheres pos-menopausa. Como esta ocorre por volta dos cinquenta anos, as mulheres têm ainda mais um terço de suas vidas a produzir. A sociedade não pode mais se permitir ignorar ou marginalizar as mulheres após terem deixado de ser reprodutivas ou “atrativas”. Mais importante do que reverter os preconceitos masculinos é a necessidade das próprias mulheres emergirem do seu marasmo secular e assumirem atitudes positivas em relação a este rito de passagem - não como um fim, mas o início de um novo ciclo.
Aceitar esta nova fase e celebrá-la através de rituais e cerimônias contribuirá para a libertação dos medos sobre a perda da feminilidade, a decadência física e mental, a entrega à passividade, ao vazio, à depressão. Sentindo-se aceita, honrada e celebrada pelas suas irmãs e companheiras de jornada a mulher saberá sintonizar-se com os atributos da Mulher Sábia, da Conselheira, da Mestra e da Deusa Anciã, compartilhando os maduros frutos de suas experiências e vivências.

Por Mirella Faur - www.theiadethea.org

quarta-feira, 1 de outubro de 2008

Sangue da Vida


Sangue da vida
com a Lua Crescente meu corpo o faz.
Sangue da vida
com Minguante a terra o cultiva.

O tempo veio para mulher abandonar sua vergonha.
O sangue que derramamos é sagrado, uma honra que restaura.
Celebremos nosso dom, o poder para criar,
O milagre da vida humana de amor foi consumado.

Sangue da vida,
com a Lua Crescente meu corpo o faz.
Sangue da vida
com Minguante a terra o cultiva.

Sangue da vida,
Sangue da Sabedoria, como os Anciões o chamam.
Sangue da vida,
presente Sagrado, vamos celebra-lo.

Honre seu ritmo, siga o fluxo.
Ame sua criação, aprenda a deixar ir.
Honre a noite escura, honre o dia, honre seu corpo, ele conhece os caminhos.

Nosso tempo de sangrar cura, é tempo de deixar ir,
relaxando no feminino, seguindo com o fluxo.
Não há nenhuma necessidade para compreender como a noite se transforma em dia.
A alquimia está dentro de você, seu corpo conhece os caminhos.

Eu sou mulher, mulher que flui com a Lua,
mulher que sangra para vida.
Eu honro meu sangue.
Eu sou a mulher sagrada.
Eu sou a mulher que muda.

Laura-Doe Harris, 1995 - Do livro Ritos de Passagem -Claudiney Prieto